15 de fevereiro de 2016

vamos falar de formation

Ok ladies, now let's get in formation ~ Olá manas, como vão? Espero que bem. Depois de um tempinho sem aparecer aqui, eu resolvi fazer um post sobre um assunto que vem me perturbando muito nos últimos dias: Formation. Sim, o novo clipe da Beyonce. Eu confesso que assim que lançou, eu dei 0 fodas, mas após um amigo me explicar a história do clipe eu me interessei e resolvi ver. Não só a música como toda a mensagem do clipe me afetaram de uma forma inexplicável e demorei alguns dias para concluir meu raciocínio, vamos lá saber o porquê?

Para as manas que não me conhecem: eu sou negra, moro em Salvador (uma cidade negra) e bem, minha revelação chocante: Eu nunca me orgulhei disso. Eu sempre abominei o pensamento de que eu era negra e pobre. Não. Na minha cabeça, isso não era verdade. Eu só fui realmente perceber que eu era negra na terceira série (FORAM 9 ANOS GENTE!!!!!) quando a professora de literatura queria fazer uma peça teatral baseada no livro que havíamos lido "Qual é a cor do amor?". O livro é basicamente sobre uma garotinha branca que tem pais preconceituosos e acaba se perdendo dos pais na rua e uma mulher negra a encontra e ajuda a encontrar o caminho de casa; o final é bonitinho e o pai percebe que amor não tem cor e todo mundo é lindo. Eu sempre amei teatro e aquela seria uma ótima oportunidade para mim, por isso quando ela perguntou quem gostaria de ser a protagonista, eu levantei minha mão e ela me disse "A protagonista tem que ser branca". Naquele momento, meu mundo parou e eu me lembro exatamente o que eu pensei na hora, "dá para perceber que eu sou negra?". Eu olhei para meu corpo e a ficha caiu. Eu era negra.

Desde pequena, eu aliso meu cabelo. Lembro que o pranchei pela primeira vez com 6 anos?? Sim, seis! Eu fique tão feliz, finalmente tinha o meu tão “sonhado” cabelo liso. Até hoje, 15 de fevereiro, eu aliso, mas estou pensando seriamente em parar com isso por causa da Beyonce.

Há quem diga que representatividade não importa, mas eu lhes digo que importa. Eu cresci assistindo novelas, filmes com protagonistas brancos e quando havia espaço para os negros, eles eram os empregados. Eu cresci sonhando em alisar meu cabelo, em ter ele liso. Eu cresci venerando o padrão europeu, mas agora chega. Agora, dia 15 de fevereiro, eu vejo uma mulher negra, independente, empoderada cantando sobre o quanto ela se orgulha da cor e do cabelo afro dela. Eu chorei, sabe? Por que doeu tanto. Doeu por que eu me dei conta da minha realidade e a minha realidade não é legal. Além de mulher, eu sou negra. Mas eu posso dizer que me orgulho da minha cor, meu cabelo afro e meu nariz de Jackson 5. Eu não quero mais me parecer com Gisele Bündchen. Eu quero ser a Rihanna, Beyonce, Azealia, Zendaya, Karol Conka... Eu quero ser negra e honrar as minhas raízes por que eu não tenho mais vergonha. Essa era uma das coisas que eu precisava me desconstruir e obrigada Beyonce por ter feito isso.

A ditadura branca acabou. Não vou deixar que eles me imponham seus padrões. Se quiserem olhar feio para mim e para o meu cabelo, podem olhar. Não importa o que a White people pense, i came to slay bitch.

I like my baby hair, with baby hair and afros. I like my Negro nose with Jackson Five nostrils

10 comentários:

  1. Mifa, arrasou!
    Me identifiquei muitíssimo com o texto. Lembro que quando criança já pensei coisas tipo "por que eu tinha que ter a cor da minha mãe? Podia ter puxado ao meu pai é ter nascido branca", paro pra pensar se eu pensava isso "de graça", quer dizer, será que uma criança branca pensaria algo assim também? Claro que não. Ou seja, desde criança o mundo me induzia a pensar que ser branco era "melhor", bem triste. Eu detestava meu cabelo cacheado, fazia de tudo pra escondê-lo, mas hoje, eu olho para fotos antigas e sinto bastante falta :(
    Espero que mais pessoas sejam "atingidas" pelo seu texto lindo, xx

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    1. arrasei sim ♥
      Eu sempre tive esse mesmo sentimento de "pq não puxei a não sei quem". Minha avó mesmo, ela é branca, olhos verdes e cabelo liso. Sempre me perguntei porque não puxei a ela. é triste.
      Seu cabelo era lindo, triste que tirou os cachos :x mas eu entendo, fiz o msm.
      Espero também! Tamo aqui para desconstruir ♥
      obrigada por comentar no blog ç3ç

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  2. Hey!

    Sério isso no terceiro ano?Tipo,eu sou morena mais pra branco -sou bronzeada- e tenho o mesmo cabelo tipo você.Mas só que odeio,o-d-e-i-o pranchar ele.Pra mim não fica natural,não combina cabelo liso comigo,mas ao contrário de você que sempre faz,eu pranchei devia ter 10 anos (tenho 13) e não gosto,apesar do resultado ser bom etc,não fica bom pra mim,nem pra minha auto-estima.

    E minha mãe faz questão de querer que eu alise meu cabelo e corte ele,mas não quero isso.Nem cortar até o ombro,alisar como todas as garotas fazem.Pra mim não combina!

    Eu confesso que fui como você,vendo aqueles filmes,novelas,todo mundo branco!Zendaya,Karol Conka <3
    Mas além de mulher eu sou negra.O que uma cor vai mudar em você?Nada,baby!

    E já quis ser branca também....mas tento não pensar nisso,ignoro tudo isso de ser mulher branca é melhor,e bem sobre esse assunto "sofro" mais com o cabelo.
    Desculpa comentário enorme ;-;

    http://mallow-mars.blogspot.com.br/

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    1. Que bom que você não é mais uma do clubinho "quero ter cabelo 'bom'".
      Espero que tu "lute contra" a sua mãe e não deixe-a impor esse padrão em você. ♥
      Representação negra não existe no Brasil (e nem no mundo), infelizmente...
      Eu agora ignoro toda essa babaquice de que o branco é melhor. Sou preta mesmo e tenho orgulho disso!
      Precisa pedir desculpa não, adoro textão! ♥

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  3. Hello
    Cara, confesso que nunca liguei pra minha cor (até hoje não sei o que sou. Parda, talvez?) Minha mãe é branca e meu pai é bem moreno (tipo no tom indígena) então eu tenho meio que uma cor de papelão, sabe? ahdaisuhdi Meu cabelo não é liso nem cacheado, isso sempre me incomodou pra caramba "por que esse troço não decide o que quer ser? oush" Alisei pela primeira vez com 11 anos (pior erro da minha vida, meu cabelo rejeitou o produto, caiu muito e virou um ninho de pássaro)
    Acho que o que eu tô tentando dizer é que eu nunca passei por essa fase de aceitação, porque eu nunca me preocupei com isso. Até pouco tempo atrás achava que racismo era algo raro, quase extinto (porque na minha família tem essa mistura enorme de cores e raças, todo mundo se amando e se respeitando, então pra mim o mundo todo era assim) e acho lindo essa coisa de amar suas raízes, amar quem você é. Se for te fazer feliz, vai fundo!
    bjs <3

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    1. "tom papelão" essa é nova jhjajkj
      ai nem me fala nesses alisamentos que fazemos quando criança, mas não temos noção e pior que nossos pais alimentam isso...
      Talvez você não tenha passado porque não lhe atinge 100%. Eu mesma quando mais nova não tinha essa noção toda do machismo e da homofobia, cresci, pesquisei e convivi com pessoas que sofrem disso e passei a enxergar ainda mais.
      To muito feliz sim, amando quem eu sou. ♥

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  4. Malu,
    Eu fico imensamente feliz em ler seu relado. Eu também sou negra, mulher e pobre e é com grande pesar que vejo toda a descriminação que ainda vivemos nos dias de hoje (em pleno 2016!) e precisamos aguentar, muitas vezes sem dizer nada.
    Essa sociedade opressora que pisa na minha cultura me enoja e me deixa sem folego. Pensar que, desde cedo, a mídia, o professor, o patrão ou até a mãe da criança branca repassam que pele negra e cabelo cacheado é algo ruim. Vemos na televisão desenhos e filmes infantis com protagonistas loiras, como a Barbie; nas novelas a mocinha é sempre caucasiana; nos livros? o herói tem sempre olho azul. Poxa, assim não dá!
    Queria muito dar um basta nisso tudo e parar de ser silenciada por ser mulher, nordestina e negra. Não posso fazer muito, no entanto, mas admiro tanto essa gente de mídia (como a Bey, a Zendaya, a Willow e a Nicki) que estão sempre mostrando o quão importante somos e fazendo a milhares de pessoas o que fez com você.
    Somos todos lindos e eu sou muito orgulhosa da história e cultura do meu povo. Meu povo que foi forte e aguentou chicotada, que moraram numa senzala, que criou a capoeira, que são guerreiros por natureza.
    Ser negra não devia ser motivo de vergonha pra ninguém, mas de orgulho. Fico muito feliz que você percebeu isso ♥

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    1. Pior é a grande quantidade de pessoas quem vêm toda essa desconstrução que felizmente está acontecendo ultimamente como um simples "mimimi" quando já deveria estar extinto...
      Não dá mesmo! Os padrões tão ali desde a infância, é a princesa que é branca e loira, é o galã que é branco e loiro. E quando os negros, mostrando sua resistência, resolvem mostrar com orgulho suas raízes ainda tem que ouvir comentários pejorativos. Faça-me o favor, white people.
      "Queria muito dar um basta nisso tudo e parar de ser silenciada por ser mulher, nordestina e negra." Ótimo ponto! Esqueci de citar que sou nordestina. Além do racismo e machismo, ainda enfrento a xenofobia. Vê se pode?
      Eu também estou muito feliz que percebi e acordei para isso ♥ viva as manas e manos negros!

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